quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

SEBASTIÃO

Olá, pessoal!

Assim como Sebastião ressurgiu após ter sido dado como morto, faço uma homenagem a nosso padroeiro ressurgindo após mais de 2 semanas sem dar notícias por esse blog!

Por aqui a vida mudou muito nesses últimos 16 dias. Uma mudança é que já sei que quem vem de Golden chama-se Goldenite! A principal delas, contudo, é que agora me abrigo do frio e da secura Goldenites em uma deliciosa, charmosa, aconchegante e razoavelmente bem equipada casa. Outro fato muito relevante é que minhas aulas já começaram e os poucos deveres de casa que tive até agora já botaram pra quebrar com minha disponibilidade para fazer outras coisas. Talvez a única coisa que me tome mais tempo do que os estudos é a pilha de formulários que eu tenho que preencher e entregar na Mines me registrando em todos os escritórios de pós-graduação, internacional, de inscrição, etc, além das mil palestras orientando sobre segurança, meio smbiente, saúde, assédio sexual, como ser um estrangeiro no Colorado, como ser um aluno do Departamento de Geofísica, etc. Fora isso tudo, tenho descoberto que o ambiente de pós-graduação da Mines não deixa nada a desejar à ONU ou ao CISV (Children International Summer Village, programa que promove encontro de jovens de todo o mundo com o objetivo de quebrar estereótipos e unir as nações). Metade dos alunos é estrangeira, com representantes do Paquistão, Índia, Venezuela, Egito, Nepal, Austria, Inglaterra, Espanha, China e muito mais. Graças a Deus ainda não encontrei nenhum argentino!! Hahaha Brincadeira, gosto muito dos argentinos!

Voltando à casa... sua melhor qualidade é a vista que tem para o vale preenchido pela pitoresca Golden, uma cidade típica do western americano. Outro dia mesmo entrei num saloon com minhas duas pistolas embainhadas e avisei que o primeiro que se pusesse na minha frente vê-las-ia pular fora do coldre e soltar fumacinha. Tudo bem, voltando à vaca fria, meus pais tem me ajudado muito a montar a casa e sem a prática deles certamente eu ainda estaria engatinhando como dono de casa. Fico imaginando que eles poderiam apresentar um daqueles reality shows em que uma equipe dá um belo jeito na casa de pessoas sem nenhum gosto. Não quero dizer que eu não tenho bom gosto, mas sim que eles são exímios desenvolvedores de ambientes domésticos! Principalmente agora que minhas aulas começaram e eu tenho que passar o dia interpretando sessões sísmicas maiores do que eu, eles começaram a brincar de casinha pra valer e eu passei a precisar de um mapa pra saber onde minha mãe guardou o paninho tal, a colher de sopa, onde foram parar as panelas, onde meu pai guardou a chave de fenda, onde está a roupa suja. Aqueles que conhecem bem minha mãe sabem que ela não deixa a casa na mesma configuração por mais de algumas horas! Quando eles forem embora minha vida vai deixar de ser mole e aí sim vou saber como é chato lavar panelas com a barriga cheia depois de um dia cansativo. Enquanto isso vou aproveitando os mimos que só cabem aos filhos únicos!
    Mas estou muito empolgado com minha moradia. Tudo nela me agrada, a confortável poltrona reclinante, por exemplo, é a realização de um sonho antigo. Mais profunda ainda é a realização de não ter ninguem morando em cima nem embaixo, sair pela porta de minha casa e poder pisar direto no solo da Terra, sem ter que me pendurar num caixote, apertar um botão e, se Itaipu não sofrer sobrecarga pelo uso de arcondionados, chegar à rua, após talvez ter tido que travar um questionamento idiota sobre se vai chover ou não com o vizinho que não me lembro o nome nem o número do apartamento. Além disso tudo, a casa tem tudo o que preciso, não é pequena a ponto de me sentir apertado nem grande a ponto de me sentir sozinho. O fato de ter 2 andares faz com que meu quarto (único cômodo no segundo andar) torne-se um lugar mais sagrado e relaxante, distante dos vai-e-vens do dia-a-dia. Por falar nele, e sem querer tirar onda, estou dormindo numa deliciosa cama queen size (porra, queen size parece coisa de viado, mas juro que é um tamanho bom). Outra coisa que me amarro é comer na mesa que tem na pseudo sala de jantar, que nada mais é que uma transição entre a sala de estar e a cozinha americana, que se separa da sala de estar por um balcão em formato de bar. Essa mesa fica junto a uma porta de vidro que tem uma vista para as montanhas nevadas criando um astral muito positivo sobretudo no início do dia quando estou tomando café e o sol surge com toda a força derretendo um pouquinho e fazendo brilhar o glassé cobrindo as rochosas! Viu, não é só no Rio que montanhas podem ser associadas a comida!

Acho que aqueles que conseguiram ler até aqui merecem que eu pare de babar a minha casa nova e passe pra outro assunto, que por sua vez não poderia ser nada mais nada menos que minha rotina universitária. As aulas começaram na quarta-feira da semana passada. Estou inscrito em 3 matérias: Seismic Interpretation (Interpretação Sísmica), Formation Evaluation (Avaliação de Formação, que trata de como lidar com informação que vem de poços) e Seismic Signature of Reservoir Systems (Assinatura Sísmica de Sistemas Reservatórios, que trata de como é a expressão de cada tipo de reservatório de petróleo em uma sessão sísmica). Bem, acho que após essa última frase eu consegui garantir que ninguem mais está lendo o blog! rsrssrs Brincadeira, juro que acredito no interesse que vocês tem por mim! Minhas aulas são nas manhãs de segunda à quarta e na noite de terça-feira. Hoje entreguei um trabalho no curso de interpretação que me demandou muito esforço. Contudo, ele era tão interessante que minha motivação fez com que eu desse uma caprichada especial e hoje, quando o professor pediu 4 voluntários para apresentarem suas sessões sísmicas interpretadas, lá fui eu defender minha interpretação utilizando um dos ingleses mais macarrônicos que eu já falei na minha vida. Antes de mim o Mohamed, um egípcio que adora o Brasil e anda com a camisa da seleção, apresentou seu trabalho. Nesse momento, para aqueles que ainda tão entendendo o embaralhamento da minha narrativa, preciso dar uma de Machado de Assis (sem querer parecer um pseudointelectual pedante mas já parecendo) e assumir que minha professora da quinta séria ia dar zero na minha coesão textual. Piada de nerd, não liguem. Voltando à apresentação, eu consegui conquistar a admiração do professor pelo meu trabalho a tal ponto que durante a aula que se seguiu ele citou várias vezes minha apresentação como exemplo do que ele estava expondo. Sei que parece bobo, mas para mim foi um grande feito, principalmente porque me envolvi muito com a interpretação dessa linha sísmica do Marrocos e também porque nunca fui um aluno de receber grandes elogios! Além da parte acadêmica propriamente dita, a Mines é muito forte na orientação que dá aos alunos com relação a como fazer tudo da melhor maneira possível. Por exemplo, eles tem um setor que te ajuda a escrever, seja sua tese, um artigo ou apenas um dever de casa para nota. Basta marcar um horário que um especialista critica seu texto e sua escrita, além de corrigir as macarronisses do nosso inglês de estrangeiro. A universidade também se preocupa muito com o bem estar físico e mental dos alunos, de forma que organiza inúmeras atividades esportivas, culturais e sociais, além de criar um ambiente bastante descontraído no campus. Amanhã mesmo começo minha natação e estou formando um time de futebol (o britânico, não o americano) global com colegas de todos os países citados no segundo parágrafo.

Como vocês podem ver, não tenho descansado muito. A única oportunidade que meus pais e eu tivemos de dar um passeio mais substancial foi no domingo passado, quando fomos para Vail, uma famosa estação de esqui. Fomos apenas pra dar uma voltinha, não para esquiar, até porque eu me cago de medo de teleférico, mas deu pra curtir o clima festivo que tava na cidade, principalmente porque segunda foi feriado em homenagem a Martin Luther King, o Zumbi dos Palmares norte americano. Preciso dar o crédito a meus hóspedes dessa terra com relação à seriedade com tratam esse assunto. É muito admirável a programação que a universidade e o diretório acedêmico montaram durante toda a semana para discutir e fomentar a diversidade cultural aqui na corte do império. Mais admirável ainda é a inteligência que os estadunidenses possuem ao colocar todos os feriados em segundas ou sextas para que todos sejam prolongados! E a gente acha que é malandro! Ainda no campo profissional, tenho percebido que por aqui ninguem gosta de trabalhar até muito tarde, pelo menos no inverno. Até onde pude ver somente o comércio fecha depois das 17/18 horas e mesmo assim não vai até muuuuito tarde. Por exemplo, é melhor matar sua fome até as nove ou então ter mantimentos em casa, porque os restaurantes dificilmente ficam abertos após essa hora. Claro que eu estou falando da perspectiva da minha pequenina experiência aqui no Colorado, não imaginem que isso mereça ser tomado como uma regra geral para os EUA.

Bom pessoal, acho que todos nós temos muito o que fazer. Eu, particularmente, preciso muito ir dormir. Mas antes gostaria de deixar registrado que gostei muito de todos os comentários de vocês e que me sinto muito feliz por saber que estão lendo o blog. Fiquem tranquilos que eu recebi todos os comentários! Desculpem-me por eu ter demorado tanto a escrever um novo post, passei a semana preenchendo formulários diferentes que pediam sempre as mesmas informações, além de estar montando uma casa e fazendo homeworks. Pelo menos, como prometido, consegui configurar o teclado e escrever um post sem erros ortográficos conscientes. Minha nova resolução blogueira agora é escrever com mais regularidade.

Ah, uma coisa rápida. Na quarta-feira há 2 semanas dirigi pela primeira vez sob neve pesada. Ainda estava morando no hotel, que fica há +ou- 4 milhas da universidade. Por volta das 16:30 estava resolvendo coisas na Mines quando notei que estava escurecendo e que a neve tava beeem pesada. Resolvi, então, tocar meu barco, mas quando cheguei no carro pensei que seria melhor ter um trenó, dada a quantidade de neve que tinha sobre e sob ele. Com muito sacrifício consegui limpar o parabrisas com a mão mas ainda acabou ficando uma crosta de gelo bem no lado do motorista. Tive então que ligar o carro e esperar uma eternidade até ele esquentar para jogar ar quente no vidro e mandar o gelo embora. Antes disso ainda cometi o erro básico de todo principiante nesse ambiente romanticamente hostil: joguei água no parabrisas para derreter o gelo! Qual não foi minha assombração ao ver que o remédio só agravou o problema e a água se congelou no vidro aumentando um pouco a camada de gelo. No final das contas o ar quente foi capaz de sanar a situação. Quando pude começar a andar com o carro lembrei da primeira vez que patinei no gelo. A superfície era lisa, mas o motorista era bom. Fui para a avenida 6 que é uma freeway em que a gente anda a 55 milhas por hora e estava cheinha de carros andando a 10 milhas por hora sobre a farinha gelada que além de toda a dificuldade que causava ainda impedia de vermos qualquer marcação na pista e diminuía muito a visibilidade no ar, atuando como uma neblina na serra. Fiquei tão atento que a imagem dos floquinhos de neve caindo na minha direção enquanto dirigia gravou-se fortemente na minha retina. Assim, quando fui tentar dormir nessa mesma noite demorei um bom tempo até parar de ver com os olhos bem fechados os mesmos floquinhos ainda caindo na minha direção.

Encerro dizendo que após meu último post um tanto quanto melancólico estou satisfeito em poder mostrar que está tudo indo de bem a melhor por aqui! Apesar da saudade de vocês, da carência de feijão e da consciência de que vou passar o carnaval sem blocos, samba e bagunça, estou muito feliz aqui!

Um grande abraço!

13 comentários:

Rodrigo disse...

This is freaking brilliant... Nada como ler um texto bom desses.

Carnaval sem blocos, bagunça e etc? Tá esperando o q pra soltar fogos!!! rs

abs

Rodrigo disse...

Ah, e posta umas fotos!!

Anônimo disse...

bota fotooos!
tavares

Unknown disse...

q maneiro, Júlio !!!
mto foda a experiência com neve !!!
hahahahaha, jogar água deve ser realmente tentador...

põe fotos, aí, pô !!!

se te serve de consolação, vc não será o único no frio nesse carnaval... vou lá pra genebra na semana do carnaval enfrentar frio e neve tb...

grande abraço do sunda !!!

Anônimo disse...

XXXulio, primeiro ia fazer o comentário, que vi que ficou redundante: coloca foootos rss Ja imaginei seu lar, quero ver se o que pensei se parece com o que é.
Ri muito sobre o seu primeiro dia de aula e entendo o seu orgulho. Tem que ficar realmente feliz pq é nesses momentos que a gente ve como sabe um monte de coisas que nem faziamos ideia ou achávamos trivial. Continue escrevendo pq adoro ler :) beijos com orgulho do meu amiguinho!!! Le

Fio disse...

Fiquei muito feliz por vc. Aproveite cada dia.

Bjs

Anônimo disse...

Nada mais excitante do que respirar o ar de um outro país, né?
Queremos fotos!
Beijos diretamente de Pedro do Rio!
Ana Terra

Anônimo disse...

Nada mais excitante do que respirar o ar de um outro país, né?
Queremos fotos!
Beijos diretamente de Pedro do Rio!
Ana Terra

Unknown disse...

tb adoro os argentinos. eles sao uns gatos. essa diversidade etnica toda eh so impressao. em primeira ordem de aproximacao so tem chines, coreano e indiano. o resto todo, incluindo americanos, eh perturbacao. comida indiana, hmmm... ja a comida americana... not so much. mas o cafe eh otimo, se vc gosta de cafe com gosto de bolo de chocolate, framboesa, torta de abobora. o meu favorito eh o baunilha + caramelo. e vai muito bem com os muffins que eles vendem.

vc encontra feijao pronto em lata no supermercado, na secao comida latina (eh bom, nao torce o nariz antes de provar nao). procura a marca Goya, que tem um monte de coisa pra nos hermanos (ate suco de goiaba tem!)

eu tb vou passar o carnaval nesse ambiente suicidavel de arvores peladas e noite ja as 4 e meia, provavelmente dando aula pra gente que nao podia gostar menos de fisica mas que faz questao de cada ponto que vc tira. hurray!

pelo tamanho das frases, ta mais pra saramago que pra machado. os pinotes, digressoes e saracoteios ja estao no caminho, so falta a pontuacao engracadinha.

po, Luther King e Zumbi... forcou, hem.

escreve menos de cada vez, bicho, senao o pessoal -- blogueiro inclusive -- vai abandonar o barco loguinho.

Viana disse...

todo mundo elogiando... que bonito... mas vou ter que ser sincero: tá se sentindo uma rainha na cama queen size!!! bichona!!! hahaha

Só pra não perder o costume... :)

Mto bom saber que tá tudo indo bem.
Abs!

Felipe disse...

Sua felicidade em não ter ninguém dormindo em cima de vc realmente foi comovente, hehehehe. Brincando, gostei muito do texto!! Sem dúvida alguma a experiência de vida adquirida será única. Agora vê se não vai se distrair no volante como vc fazia aqui no Brasil. Um grande abraço e continue assim que possível postando. Seus amigos agradecem.

Marcia Lamarão disse...

Bem, confesso que da metade pra baixo, fiz uma leitura dinâmica! Hehehehe, mas fico feliz por você estar curtindo tanto essa nova experiência! Aproveite muito porque passa rápido!! E, só pra nao perder o hábito, coloca fotos!!

Besos cusqueños!

Anônimo disse...

Xúlio,
Muito obrigado pela comparação com o Martin, fiquei lisonjeado! Fora mais um post muito gay, que bom que você está se divertindo e curtindo a América! Alias, Vail é muito maneiro, deixa de viadagem e quando puder vai lá esquiar!
abs,
Zumbi