Na presença da vontade de me expressar e na falta de capacidade de escrever que o sono me dá, ofereço palavras de Fernando Pessoa para todos que precisam de redenção.
"Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta."
Boa noite!
sábado, 30 de janeiro de 2010
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
SEBASTIÃO
Olá, pessoal!
Assim como Sebastião ressurgiu após ter sido dado como morto, faço uma homenagem a nosso padroeiro ressurgindo após mais de 2 semanas sem dar notícias por esse blog!
Por aqui a vida mudou muito nesses últimos 16 dias. Uma mudança é que já sei que quem vem de Golden chama-se Goldenite! A principal delas, contudo, é que agora me abrigo do frio e da secura Goldenites em uma deliciosa, charmosa, aconchegante e razoavelmente bem equipada casa. Outro fato muito relevante é que minhas aulas já começaram e os poucos deveres de casa que tive até agora já botaram pra quebrar com minha disponibilidade para fazer outras coisas. Talvez a única coisa que me tome mais tempo do que os estudos é a pilha de formulários que eu tenho que preencher e entregar na Mines me registrando em todos os escritórios de pós-graduação, internacional, de inscrição, etc, além das mil palestras orientando sobre segurança, meio smbiente, saúde, assédio sexual, como ser um estrangeiro no Colorado, como ser um aluno do Departamento de Geofísica, etc. Fora isso tudo, tenho descoberto que o ambiente de pós-graduação da Mines não deixa nada a desejar à ONU ou ao CISV (Children International Summer Village, programa que promove encontro de jovens de todo o mundo com o objetivo de quebrar estereótipos e unir as nações). Metade dos alunos é estrangeira, com representantes do Paquistão, Índia, Venezuela, Egito, Nepal, Austria, Inglaterra, Espanha, China e muito mais. Graças a Deus ainda não encontrei nenhum argentino!! Hahaha Brincadeira, gosto muito dos argentinos!
Voltando à casa... sua melhor qualidade é a vista que tem para o vale preenchido pela pitoresca Golden, uma cidade típica do western americano. Outro dia mesmo entrei num saloon com minhas duas pistolas embainhadas e avisei que o primeiro que se pusesse na minha frente vê-las-ia pular fora do coldre e soltar fumacinha. Tudo bem, voltando à vaca fria, meus pais tem me ajudado muito a montar a casa e sem a prática deles certamente eu ainda estaria engatinhando como dono de casa. Fico imaginando que eles poderiam apresentar um daqueles reality shows em que uma equipe dá um belo jeito na casa de pessoas sem nenhum gosto. Não quero dizer que eu não tenho bom gosto, mas sim que eles são exímios desenvolvedores de ambientes domésticos! Principalmente agora que minhas aulas começaram e eu tenho que passar o dia interpretando sessões sísmicas maiores do que eu, eles começaram a brincar de casinha pra valer e eu passei a precisar de um mapa pra saber onde minha mãe guardou o paninho tal, a colher de sopa, onde foram parar as panelas, onde meu pai guardou a chave de fenda, onde está a roupa suja. Aqueles que conhecem bem minha mãe sabem que ela não deixa a casa na mesma configuração por mais de algumas horas! Quando eles forem embora minha vida vai deixar de ser mole e aí sim vou saber como é chato lavar panelas com a barriga cheia depois de um dia cansativo. Enquanto isso vou aproveitando os mimos que só cabem aos filhos únicos!
Mas estou muito empolgado com minha moradia. Tudo nela me agrada, a confortável poltrona reclinante, por exemplo, é a realização de um sonho antigo. Mais profunda ainda é a realização de não ter ninguem morando em cima nem embaixo, sair pela porta de minha casa e poder pisar direto no solo da Terra, sem ter que me pendurar num caixote, apertar um botão e, se Itaipu não sofrer sobrecarga pelo uso de arcondionados, chegar à rua, após talvez ter tido que travar um questionamento idiota sobre se vai chover ou não com o vizinho que não me lembro o nome nem o número do apartamento. Além disso tudo, a casa tem tudo o que preciso, não é pequena a ponto de me sentir apertado nem grande a ponto de me sentir sozinho. O fato de ter 2 andares faz com que meu quarto (único cômodo no segundo andar) torne-se um lugar mais sagrado e relaxante, distante dos vai-e-vens do dia-a-dia. Por falar nele, e sem querer tirar onda, estou dormindo numa deliciosa cama queen size (porra, queen size parece coisa de viado, mas juro que é um tamanho bom). Outra coisa que me amarro é comer na mesa que tem na pseudo sala de jantar, que nada mais é que uma transição entre a sala de estar e a cozinha americana, que se separa da sala de estar por um balcão em formato de bar. Essa mesa fica junto a uma porta de vidro que tem uma vista para as montanhas nevadas criando um astral muito positivo sobretudo no início do dia quando estou tomando café e o sol surge com toda a força derretendo um pouquinho e fazendo brilhar o glassé cobrindo as rochosas! Viu, não é só no Rio que montanhas podem ser associadas a comida!
Acho que aqueles que conseguiram ler até aqui merecem que eu pare de babar a minha casa nova e passe pra outro assunto, que por sua vez não poderia ser nada mais nada menos que minha rotina universitária. As aulas começaram na quarta-feira da semana passada. Estou inscrito em 3 matérias: Seismic Interpretation (Interpretação Sísmica), Formation Evaluation (Avaliação de Formação, que trata de como lidar com informação que vem de poços) e Seismic Signature of Reservoir Systems (Assinatura Sísmica de Sistemas Reservatórios, que trata de como é a expressão de cada tipo de reservatório de petróleo em uma sessão sísmica). Bem, acho que após essa última frase eu consegui garantir que ninguem mais está lendo o blog! rsrssrs Brincadeira, juro que acredito no interesse que vocês tem por mim! Minhas aulas são nas manhãs de segunda à quarta e na noite de terça-feira. Hoje entreguei um trabalho no curso de interpretação que me demandou muito esforço. Contudo, ele era tão interessante que minha motivação fez com que eu desse uma caprichada especial e hoje, quando o professor pediu 4 voluntários para apresentarem suas sessões sísmicas interpretadas, lá fui eu defender minha interpretação utilizando um dos ingleses mais macarrônicos que eu já falei na minha vida. Antes de mim o Mohamed, um egípcio que adora o Brasil e anda com a camisa da seleção, apresentou seu trabalho. Nesse momento, para aqueles que ainda tão entendendo o embaralhamento da minha narrativa, preciso dar uma de Machado de Assis (sem querer parecer um pseudointelectual pedante mas já parecendo) e assumir que minha professora da quinta séria ia dar zero na minha coesão textual. Piada de nerd, não liguem. Voltando à apresentação, eu consegui conquistar a admiração do professor pelo meu trabalho a tal ponto que durante a aula que se seguiu ele citou várias vezes minha apresentação como exemplo do que ele estava expondo. Sei que parece bobo, mas para mim foi um grande feito, principalmente porque me envolvi muito com a interpretação dessa linha sísmica do Marrocos e também porque nunca fui um aluno de receber grandes elogios! Além da parte acadêmica propriamente dita, a Mines é muito forte na orientação que dá aos alunos com relação a como fazer tudo da melhor maneira possível. Por exemplo, eles tem um setor que te ajuda a escrever, seja sua tese, um artigo ou apenas um dever de casa para nota. Basta marcar um horário que um especialista critica seu texto e sua escrita, além de corrigir as macarronisses do nosso inglês de estrangeiro. A universidade também se preocupa muito com o bem estar físico e mental dos alunos, de forma que organiza inúmeras atividades esportivas, culturais e sociais, além de criar um ambiente bastante descontraído no campus. Amanhã mesmo começo minha natação e estou formando um time de futebol (o britânico, não o americano) global com colegas de todos os países citados no segundo parágrafo.
Como vocês podem ver, não tenho descansado muito. A única oportunidade que meus pais e eu tivemos de dar um passeio mais substancial foi no domingo passado, quando fomos para Vail, uma famosa estação de esqui. Fomos apenas pra dar uma voltinha, não para esquiar, até porque eu me cago de medo de teleférico, mas deu pra curtir o clima festivo que tava na cidade, principalmente porque segunda foi feriado em homenagem a Martin Luther King, o Zumbi dos Palmares norte americano. Preciso dar o crédito a meus hóspedes dessa terra com relação à seriedade com tratam esse assunto. É muito admirável a programação que a universidade e o diretório acedêmico montaram durante toda a semana para discutir e fomentar a diversidade cultural aqui na corte do império. Mais admirável ainda é a inteligência que os estadunidenses possuem ao colocar todos os feriados em segundas ou sextas para que todos sejam prolongados! E a gente acha que é malandro! Ainda no campo profissional, tenho percebido que por aqui ninguem gosta de trabalhar até muito tarde, pelo menos no inverno. Até onde pude ver somente o comércio fecha depois das 17/18 horas e mesmo assim não vai até muuuuito tarde. Por exemplo, é melhor matar sua fome até as nove ou então ter mantimentos em casa, porque os restaurantes dificilmente ficam abertos após essa hora. Claro que eu estou falando da perspectiva da minha pequenina experiência aqui no Colorado, não imaginem que isso mereça ser tomado como uma regra geral para os EUA.
Bom pessoal, acho que todos nós temos muito o que fazer. Eu, particularmente, preciso muito ir dormir. Mas antes gostaria de deixar registrado que gostei muito de todos os comentários de vocês e que me sinto muito feliz por saber que estão lendo o blog. Fiquem tranquilos que eu recebi todos os comentários! Desculpem-me por eu ter demorado tanto a escrever um novo post, passei a semana preenchendo formulários diferentes que pediam sempre as mesmas informações, além de estar montando uma casa e fazendo homeworks. Pelo menos, como prometido, consegui configurar o teclado e escrever um post sem erros ortográficos conscientes. Minha nova resolução blogueira agora é escrever com mais regularidade.
Ah, uma coisa rápida. Na quarta-feira há 2 semanas dirigi pela primeira vez sob neve pesada. Ainda estava morando no hotel, que fica há +ou- 4 milhas da universidade. Por volta das 16:30 estava resolvendo coisas na Mines quando notei que estava escurecendo e que a neve tava beeem pesada. Resolvi, então, tocar meu barco, mas quando cheguei no carro pensei que seria melhor ter um trenó, dada a quantidade de neve que tinha sobre e sob ele. Com muito sacrifício consegui limpar o parabrisas com a mão mas ainda acabou ficando uma crosta de gelo bem no lado do motorista. Tive então que ligar o carro e esperar uma eternidade até ele esquentar para jogar ar quente no vidro e mandar o gelo embora. Antes disso ainda cometi o erro básico de todo principiante nesse ambiente romanticamente hostil: joguei água no parabrisas para derreter o gelo! Qual não foi minha assombração ao ver que o remédio só agravou o problema e a água se congelou no vidro aumentando um pouco a camada de gelo. No final das contas o ar quente foi capaz de sanar a situação. Quando pude começar a andar com o carro lembrei da primeira vez que patinei no gelo. A superfície era lisa, mas o motorista era bom. Fui para a avenida 6 que é uma freeway em que a gente anda a 55 milhas por hora e estava cheinha de carros andando a 10 milhas por hora sobre a farinha gelada que além de toda a dificuldade que causava ainda impedia de vermos qualquer marcação na pista e diminuía muito a visibilidade no ar, atuando como uma neblina na serra. Fiquei tão atento que a imagem dos floquinhos de neve caindo na minha direção enquanto dirigia gravou-se fortemente na minha retina. Assim, quando fui tentar dormir nessa mesma noite demorei um bom tempo até parar de ver com os olhos bem fechados os mesmos floquinhos ainda caindo na minha direção.
Encerro dizendo que após meu último post um tanto quanto melancólico estou satisfeito em poder mostrar que está tudo indo de bem a melhor por aqui! Apesar da saudade de vocês, da carência de feijão e da consciência de que vou passar o carnaval sem blocos, samba e bagunça, estou muito feliz aqui!
Um grande abraço!
Assim como Sebastião ressurgiu após ter sido dado como morto, faço uma homenagem a nosso padroeiro ressurgindo após mais de 2 semanas sem dar notícias por esse blog!
Por aqui a vida mudou muito nesses últimos 16 dias. Uma mudança é que já sei que quem vem de Golden chama-se Goldenite! A principal delas, contudo, é que agora me abrigo do frio e da secura Goldenites em uma deliciosa, charmosa, aconchegante e razoavelmente bem equipada casa. Outro fato muito relevante é que minhas aulas já começaram e os poucos deveres de casa que tive até agora já botaram pra quebrar com minha disponibilidade para fazer outras coisas. Talvez a única coisa que me tome mais tempo do que os estudos é a pilha de formulários que eu tenho que preencher e entregar na Mines me registrando em todos os escritórios de pós-graduação, internacional, de inscrição, etc, além das mil palestras orientando sobre segurança, meio smbiente, saúde, assédio sexual, como ser um estrangeiro no Colorado, como ser um aluno do Departamento de Geofísica, etc. Fora isso tudo, tenho descoberto que o ambiente de pós-graduação da Mines não deixa nada a desejar à ONU ou ao CISV (Children International Summer Village, programa que promove encontro de jovens de todo o mundo com o objetivo de quebrar estereótipos e unir as nações). Metade dos alunos é estrangeira, com representantes do Paquistão, Índia, Venezuela, Egito, Nepal, Austria, Inglaterra, Espanha, China e muito mais. Graças a Deus ainda não encontrei nenhum argentino!! Hahaha Brincadeira, gosto muito dos argentinos!
Voltando à casa... sua melhor qualidade é a vista que tem para o vale preenchido pela pitoresca Golden, uma cidade típica do western americano. Outro dia mesmo entrei num saloon com minhas duas pistolas embainhadas e avisei que o primeiro que se pusesse na minha frente vê-las-ia pular fora do coldre e soltar fumacinha. Tudo bem, voltando à vaca fria, meus pais tem me ajudado muito a montar a casa e sem a prática deles certamente eu ainda estaria engatinhando como dono de casa. Fico imaginando que eles poderiam apresentar um daqueles reality shows em que uma equipe dá um belo jeito na casa de pessoas sem nenhum gosto. Não quero dizer que eu não tenho bom gosto, mas sim que eles são exímios desenvolvedores de ambientes domésticos! Principalmente agora que minhas aulas começaram e eu tenho que passar o dia interpretando sessões sísmicas maiores do que eu, eles começaram a brincar de casinha pra valer e eu passei a precisar de um mapa pra saber onde minha mãe guardou o paninho tal, a colher de sopa, onde foram parar as panelas, onde meu pai guardou a chave de fenda, onde está a roupa suja. Aqueles que conhecem bem minha mãe sabem que ela não deixa a casa na mesma configuração por mais de algumas horas! Quando eles forem embora minha vida vai deixar de ser mole e aí sim vou saber como é chato lavar panelas com a barriga cheia depois de um dia cansativo. Enquanto isso vou aproveitando os mimos que só cabem aos filhos únicos!
Mas estou muito empolgado com minha moradia. Tudo nela me agrada, a confortável poltrona reclinante, por exemplo, é a realização de um sonho antigo. Mais profunda ainda é a realização de não ter ninguem morando em cima nem embaixo, sair pela porta de minha casa e poder pisar direto no solo da Terra, sem ter que me pendurar num caixote, apertar um botão e, se Itaipu não sofrer sobrecarga pelo uso de arcondionados, chegar à rua, após talvez ter tido que travar um questionamento idiota sobre se vai chover ou não com o vizinho que não me lembro o nome nem o número do apartamento. Além disso tudo, a casa tem tudo o que preciso, não é pequena a ponto de me sentir apertado nem grande a ponto de me sentir sozinho. O fato de ter 2 andares faz com que meu quarto (único cômodo no segundo andar) torne-se um lugar mais sagrado e relaxante, distante dos vai-e-vens do dia-a-dia. Por falar nele, e sem querer tirar onda, estou dormindo numa deliciosa cama queen size (porra, queen size parece coisa de viado, mas juro que é um tamanho bom). Outra coisa que me amarro é comer na mesa que tem na pseudo sala de jantar, que nada mais é que uma transição entre a sala de estar e a cozinha americana, que se separa da sala de estar por um balcão em formato de bar. Essa mesa fica junto a uma porta de vidro que tem uma vista para as montanhas nevadas criando um astral muito positivo sobretudo no início do dia quando estou tomando café e o sol surge com toda a força derretendo um pouquinho e fazendo brilhar o glassé cobrindo as rochosas! Viu, não é só no Rio que montanhas podem ser associadas a comida!
Acho que aqueles que conseguiram ler até aqui merecem que eu pare de babar a minha casa nova e passe pra outro assunto, que por sua vez não poderia ser nada mais nada menos que minha rotina universitária. As aulas começaram na quarta-feira da semana passada. Estou inscrito em 3 matérias: Seismic Interpretation (Interpretação Sísmica), Formation Evaluation (Avaliação de Formação, que trata de como lidar com informação que vem de poços) e Seismic Signature of Reservoir Systems (Assinatura Sísmica de Sistemas Reservatórios, que trata de como é a expressão de cada tipo de reservatório de petróleo em uma sessão sísmica). Bem, acho que após essa última frase eu consegui garantir que ninguem mais está lendo o blog! rsrssrs Brincadeira, juro que acredito no interesse que vocês tem por mim! Minhas aulas são nas manhãs de segunda à quarta e na noite de terça-feira. Hoje entreguei um trabalho no curso de interpretação que me demandou muito esforço. Contudo, ele era tão interessante que minha motivação fez com que eu desse uma caprichada especial e hoje, quando o professor pediu 4 voluntários para apresentarem suas sessões sísmicas interpretadas, lá fui eu defender minha interpretação utilizando um dos ingleses mais macarrônicos que eu já falei na minha vida. Antes de mim o Mohamed, um egípcio que adora o Brasil e anda com a camisa da seleção, apresentou seu trabalho. Nesse momento, para aqueles que ainda tão entendendo o embaralhamento da minha narrativa, preciso dar uma de Machado de Assis (sem querer parecer um pseudointelectual pedante mas já parecendo) e assumir que minha professora da quinta séria ia dar zero na minha coesão textual. Piada de nerd, não liguem. Voltando à apresentação, eu consegui conquistar a admiração do professor pelo meu trabalho a tal ponto que durante a aula que se seguiu ele citou várias vezes minha apresentação como exemplo do que ele estava expondo. Sei que parece bobo, mas para mim foi um grande feito, principalmente porque me envolvi muito com a interpretação dessa linha sísmica do Marrocos e também porque nunca fui um aluno de receber grandes elogios! Além da parte acadêmica propriamente dita, a Mines é muito forte na orientação que dá aos alunos com relação a como fazer tudo da melhor maneira possível. Por exemplo, eles tem um setor que te ajuda a escrever, seja sua tese, um artigo ou apenas um dever de casa para nota. Basta marcar um horário que um especialista critica seu texto e sua escrita, além de corrigir as macarronisses do nosso inglês de estrangeiro. A universidade também se preocupa muito com o bem estar físico e mental dos alunos, de forma que organiza inúmeras atividades esportivas, culturais e sociais, além de criar um ambiente bastante descontraído no campus. Amanhã mesmo começo minha natação e estou formando um time de futebol (o britânico, não o americano) global com colegas de todos os países citados no segundo parágrafo.
Como vocês podem ver, não tenho descansado muito. A única oportunidade que meus pais e eu tivemos de dar um passeio mais substancial foi no domingo passado, quando fomos para Vail, uma famosa estação de esqui. Fomos apenas pra dar uma voltinha, não para esquiar, até porque eu me cago de medo de teleférico, mas deu pra curtir o clima festivo que tava na cidade, principalmente porque segunda foi feriado em homenagem a Martin Luther King, o Zumbi dos Palmares norte americano. Preciso dar o crédito a meus hóspedes dessa terra com relação à seriedade com tratam esse assunto. É muito admirável a programação que a universidade e o diretório acedêmico montaram durante toda a semana para discutir e fomentar a diversidade cultural aqui na corte do império. Mais admirável ainda é a inteligência que os estadunidenses possuem ao colocar todos os feriados em segundas ou sextas para que todos sejam prolongados! E a gente acha que é malandro! Ainda no campo profissional, tenho percebido que por aqui ninguem gosta de trabalhar até muito tarde, pelo menos no inverno. Até onde pude ver somente o comércio fecha depois das 17/18 horas e mesmo assim não vai até muuuuito tarde. Por exemplo, é melhor matar sua fome até as nove ou então ter mantimentos em casa, porque os restaurantes dificilmente ficam abertos após essa hora. Claro que eu estou falando da perspectiva da minha pequenina experiência aqui no Colorado, não imaginem que isso mereça ser tomado como uma regra geral para os EUA.
Bom pessoal, acho que todos nós temos muito o que fazer. Eu, particularmente, preciso muito ir dormir. Mas antes gostaria de deixar registrado que gostei muito de todos os comentários de vocês e que me sinto muito feliz por saber que estão lendo o blog. Fiquem tranquilos que eu recebi todos os comentários! Desculpem-me por eu ter demorado tanto a escrever um novo post, passei a semana preenchendo formulários diferentes que pediam sempre as mesmas informações, além de estar montando uma casa e fazendo homeworks. Pelo menos, como prometido, consegui configurar o teclado e escrever um post sem erros ortográficos conscientes. Minha nova resolução blogueira agora é escrever com mais regularidade.
Ah, uma coisa rápida. Na quarta-feira há 2 semanas dirigi pela primeira vez sob neve pesada. Ainda estava morando no hotel, que fica há +ou- 4 milhas da universidade. Por volta das 16:30 estava resolvendo coisas na Mines quando notei que estava escurecendo e que a neve tava beeem pesada. Resolvi, então, tocar meu barco, mas quando cheguei no carro pensei que seria melhor ter um trenó, dada a quantidade de neve que tinha sobre e sob ele. Com muito sacrifício consegui limpar o parabrisas com a mão mas ainda acabou ficando uma crosta de gelo bem no lado do motorista. Tive então que ligar o carro e esperar uma eternidade até ele esquentar para jogar ar quente no vidro e mandar o gelo embora. Antes disso ainda cometi o erro básico de todo principiante nesse ambiente romanticamente hostil: joguei água no parabrisas para derreter o gelo! Qual não foi minha assombração ao ver que o remédio só agravou o problema e a água se congelou no vidro aumentando um pouco a camada de gelo. No final das contas o ar quente foi capaz de sanar a situação. Quando pude começar a andar com o carro lembrei da primeira vez que patinei no gelo. A superfície era lisa, mas o motorista era bom. Fui para a avenida 6 que é uma freeway em que a gente anda a 55 milhas por hora e estava cheinha de carros andando a 10 milhas por hora sobre a farinha gelada que além de toda a dificuldade que causava ainda impedia de vermos qualquer marcação na pista e diminuía muito a visibilidade no ar, atuando como uma neblina na serra. Fiquei tão atento que a imagem dos floquinhos de neve caindo na minha direção enquanto dirigia gravou-se fortemente na minha retina. Assim, quando fui tentar dormir nessa mesma noite demorei um bom tempo até parar de ver com os olhos bem fechados os mesmos floquinhos ainda caindo na minha direção.
Encerro dizendo que após meu último post um tanto quanto melancólico estou satisfeito em poder mostrar que está tudo indo de bem a melhor por aqui! Apesar da saudade de vocês, da carência de feijão e da consciência de que vou passar o carnaval sem blocos, samba e bagunça, estou muito feliz aqui!
Um grande abraço!
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Tomando rumo
Ola, pessoal!
Esse post ainda sera com um teclado nao configurado para o portugues, mas espero resolver esse problema em breve.
Hoje encarei da forma ate entao mais concreta que ficarei 2 anos num lugar pelo qual tive empatia mas que nao guarda referencias pessoais minhas. Nao condenem o drama pois, apesar de suave, ele eh real.
Comprei o segundo carro da minha vida no meu segundo dia em Golden e no meu ultimo em 2009. Se ele fosse um gato ou um cachorro estaria velhinho, pois tem 10 anos de idade. Contudo, é um Toyota Camry que passou pelas maos de uma unica dona, muito cuidadosa. Por isso, continua sendo um vigoroso carrao, com um motor 3.0 de 6 cilindros, piloto automatico, teto solar, todo em couro, muito confortavel, bonito e raitec. Essa compra nos deixou tao cansados (meus pais e eu), que so conseguimos comemorar decentemente o reveillon do Brasil, pois a meia-noite daqui estavamos indo pra cama!
Comecamos entao a ter chances de sobrevivencia nessa cidade em que quase nao ha onibus nem taxi circulando pelas ruas. Mas para nos sentir gente precisamos comprar ainda um celular.
Depois disso soh faltava uma grande providencia: uma casa! A procura nao foi dura, mas a escolha dentre as opcoes encontradas foi muito dificil para esse incuravel DDA (libriano, para os misticos). Aquela cottage que eu disse ter gostado no post anterior ficou entre as favoritas e foi disputar a final com uma de suas primas de condomino, que tinha 1 quarto a mais e uma vista tambem bela! Como a diferenca de preco era pequena, fiquei com a de 1 quarto a mais (no total sao 2 quartos!).
A escolha gerou muita alegria e uma certa euforira. Foi como ser apresentado ao bebe que acaba de sair da barriga de sua esposa. Foi muito aliviante ver que tinhamos chegado ao fim daquele periodo de gestacao, que a crianca era bonita e saudavel e que podiamos fazer grandes projetos para ela!
Contudo, a metafora do bebe nao para por aih. Apos a escolha, fomos ao escritorio do condominio (Canyon Point Cottages) para assinar a papelada. Deu um certo trabalho ler e preencher tudo, mas ateh esse momento nada foi tao assombroso quanto a escolha do periodo de aluguel. Minhas opcoes variavam de 6 a 13 meses sendo que no caso de quebra de contrato eu teria que pagar todos os meses restantes. Ou seja, se eu vier a ter algum problema e nao quiser mais morar nesse condominio nao terei essa possibilidade. Por outro lado, estou alugando numa promocao - que foi lancada por conta da crise - e apos o termino do contrato o preco do aluguel vai subir significativamente. Optei, entao, pela garantia de preco baixo e risco de nao poder me mudar caso algo de errado aconteca. Eh aih que a metafora ressurge. Esse lindo filho mostrou que exige responsabilidades, que eu precisarei seguir a seu lado ateh o final de fevereiro de 2011, independentemente do seu comportamento nesse tempo.
Essa metafora teve um grande peso psicologico. Ela selou minha ausencia do Brasil pelo proximo ano, pelo menos. Isso tornou minha tarde de domingo bastante nostalgica. E como a vida eh filme sim, nessa mesma tarde em que deixei de ser apenas filho e me tornei simbolicamente pai responsavel, a nostalgia foi corroborada por uma precipitacao de neve quase musical. No meu primeiro dia de pai vi a neve cair pela primeira vez na minha vida.
Soh consegui aliviar a nostalgia ao parar o carro diante do ceu poente e imaginar que nao havia muros entre a minha terra e o lugar onde estou, que a atmosfera eh a mesma aqui e lah, que o mundo eh contiguo. Poucas coisas sao tao agradaveis pra mim nesse momento quanto imaginar que o mundo eh contiguo! Eh curioso reparar que apenas essa imagem - talvez por ser tao primitiva em nossa mente - eh que foi suficiente para me dar conforto. Saber que eu posso ver as pessoas por skype eh bom, mas nao eh suficiente como eh essa imagem. Nem saber que o aviao eh rapido.
Pondo fim as reflexoes, a casa soh estara disponivel para mim no sabado, dia 09. Ateh lah vou comprar moveis e pedir para que soh entreguem a partir desse dia. Tambem pretendo ir logo na Mines conversar com meu orientador.
Beijo em todos!
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. "
Esse post ainda sera com um teclado nao configurado para o portugues, mas espero resolver esse problema em breve.
Hoje encarei da forma ate entao mais concreta que ficarei 2 anos num lugar pelo qual tive empatia mas que nao guarda referencias pessoais minhas. Nao condenem o drama pois, apesar de suave, ele eh real.
Comprei o segundo carro da minha vida no meu segundo dia em Golden e no meu ultimo em 2009. Se ele fosse um gato ou um cachorro estaria velhinho, pois tem 10 anos de idade. Contudo, é um Toyota Camry que passou pelas maos de uma unica dona, muito cuidadosa. Por isso, continua sendo um vigoroso carrao, com um motor 3.0 de 6 cilindros, piloto automatico, teto solar, todo em couro, muito confortavel, bonito e raitec. Essa compra nos deixou tao cansados (meus pais e eu), que so conseguimos comemorar decentemente o reveillon do Brasil, pois a meia-noite daqui estavamos indo pra cama!
Comecamos entao a ter chances de sobrevivencia nessa cidade em que quase nao ha onibus nem taxi circulando pelas ruas. Mas para nos sentir gente precisamos comprar ainda um celular.
Depois disso soh faltava uma grande providencia: uma casa! A procura nao foi dura, mas a escolha dentre as opcoes encontradas foi muito dificil para esse incuravel DDA (libriano, para os misticos). Aquela cottage que eu disse ter gostado no post anterior ficou entre as favoritas e foi disputar a final com uma de suas primas de condomino, que tinha 1 quarto a mais e uma vista tambem bela! Como a diferenca de preco era pequena, fiquei com a de 1 quarto a mais (no total sao 2 quartos!).
A escolha gerou muita alegria e uma certa euforira. Foi como ser apresentado ao bebe que acaba de sair da barriga de sua esposa. Foi muito aliviante ver que tinhamos chegado ao fim daquele periodo de gestacao, que a crianca era bonita e saudavel e que podiamos fazer grandes projetos para ela!
Contudo, a metafora do bebe nao para por aih. Apos a escolha, fomos ao escritorio do condominio (Canyon Point Cottages) para assinar a papelada. Deu um certo trabalho ler e preencher tudo, mas ateh esse momento nada foi tao assombroso quanto a escolha do periodo de aluguel. Minhas opcoes variavam de 6 a 13 meses sendo que no caso de quebra de contrato eu teria que pagar todos os meses restantes. Ou seja, se eu vier a ter algum problema e nao quiser mais morar nesse condominio nao terei essa possibilidade. Por outro lado, estou alugando numa promocao - que foi lancada por conta da crise - e apos o termino do contrato o preco do aluguel vai subir significativamente. Optei, entao, pela garantia de preco baixo e risco de nao poder me mudar caso algo de errado aconteca. Eh aih que a metafora ressurge. Esse lindo filho mostrou que exige responsabilidades, que eu precisarei seguir a seu lado ateh o final de fevereiro de 2011, independentemente do seu comportamento nesse tempo.
Essa metafora teve um grande peso psicologico. Ela selou minha ausencia do Brasil pelo proximo ano, pelo menos. Isso tornou minha tarde de domingo bastante nostalgica. E como a vida eh filme sim, nessa mesma tarde em que deixei de ser apenas filho e me tornei simbolicamente pai responsavel, a nostalgia foi corroborada por uma precipitacao de neve quase musical. No meu primeiro dia de pai vi a neve cair pela primeira vez na minha vida.
Soh consegui aliviar a nostalgia ao parar o carro diante do ceu poente e imaginar que nao havia muros entre a minha terra e o lugar onde estou, que a atmosfera eh a mesma aqui e lah, que o mundo eh contiguo. Poucas coisas sao tao agradaveis pra mim nesse momento quanto imaginar que o mundo eh contiguo! Eh curioso reparar que apenas essa imagem - talvez por ser tao primitiva em nossa mente - eh que foi suficiente para me dar conforto. Saber que eu posso ver as pessoas por skype eh bom, mas nao eh suficiente como eh essa imagem. Nem saber que o aviao eh rapido.
Pondo fim as reflexoes, a casa soh estara disponivel para mim no sabado, dia 09. Ateh lah vou comprar moveis e pedir para que soh entreguem a partir desse dia. Tambem pretendo ir logo na Mines conversar com meu orientador.
Beijo em todos!
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. "
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