Um fim pela manhã. Não irreversível, mas que interrompe algo, como todos os fins desse mundo. Nesse caso, algo bom, a companhia de meu amigo nessa viagem que faço pelo oeste estadunidense.
Rodrigo é das melhores coisas que a faculdade me proporcionou, um amigo com quem compartilho diferenças fortíssimas de estilo de vida e de agir. Juntos aprendemos a rir do absurdo que somos; aprendemos a tornar as diferenças uma lente para enxergarmos nossas excentricidades, as quais usamos para nos divertir. Diversão grátis e impagável!
Tamanhas são as diferenças, que as similaridades tornam-se notáveis! Descobrimos uma característica comum quando vemos que o mundo é muito mais diferente de nós do que somos um do outro, como aconteceu na horrenda cidade de Reno onde vimos esquisitisses estarrecedoras. Na ocasião dessas descobertas brindamos um ao outro com gargalhadas que se prolongam por horas.
Depois de deixá-lo no aeroporto de San Francisco voltei para ver o segundo tempo do Brasil no hotel. E quando estamos em outro pais, principalmente se for morando, nossa identidade nacional torna-se mais patente. A estrangeiridade ao redor emoldura nossa nacionalidade, e o sujeito pode apreciar-se em primeira e em terceira pessoa. Viramos nosso próprio alter-ego.
Assisti ao jogo acompanhado de meu pai, um paulista gente boa, e uma carrada de gringo que esperava ver o comercial da Nike em vez de um jogo de futebol. Assim, ficaram todos frustrados por não ter tocado Mais que Nada na hora dos dribles e por a bola não ter ficado em chamas na hora dos chutes!
Depois do jogo meus pais e eu demos uma volta por San Francisco e no final da tarde fomos à charmosa Sausalito, cidade que fica na outra extremidade da Golden Gate Bridge. No caminho minha mãe lembrou que a Isabel Allende mora lá, e não levou muito para acharmos seu endereço na internet. O único livro seu que li foi Eva Luna, que me comoveu muito pela forma como deixa aflorar os meandros do coração feminino pela estória de vida de uma menina, mostrando seus anseios, medos, laços afetivos, satisfações e percepções de mundo. Meus pais leram todos os seus livros com exceção do último, La Isla Bajo el Mar. O penúltimo, La Soma de los Dias, conta a vida recente de Isabel, situada na casa que esperávamos encontrar hoje.
A portinhola da casa estava aberta, dando passagem para o quintal que o fim do dia não se preocupava em iluminar bem. A atmosfera no interior da casa era de cozinha limpa após almoço com visitas, todos pareciam ter saído de lá para descansar em outro lugar. As palmas que bati com meio corpo dentro do terreno não acordaram a casa, que sequer me entreolhou com uma de suas janelas.
O vazio foi preenchido por uma mulher baixinha que caminhava pela mesma calçada em nossa direção, carregando um pacote banal. Logo depois descobriríamos que o formato aberto de seu rosto concorda com a frequência que essa mulher já abriu seus braços para acolher pessoas ou expor seu coração. Perguntou-nos: "Precisam de ajuda?". "Sim, procuramos a casa de Isabel Allende, é essa aqui?", ao que respondeu a moça com muita decisão: "Esse é o escritório dela sim, mas só fica aberto de 9 da manhã às 5 da tarde."
Em intervalos de mais ou menos 5 segundos fomos um a um repetindo "É a Isabel Allende?", e precipitamo-nos atrás dela gritando "Isabel!!". Nossa insistência forçou-a a virar-se para dizer sim à minha pergunta "Você é a Isabel Allende?" e chamar-nos com um aceno para irmos depressa seguindo ela. Sua pressa era porque chegavam algumas visitas à sua casa. Mesmo assim ela nos levou a seu escritório, onde sentamos para conversar um pouco e nos pediu para que escolhêssemos entre as versões em inglês e espanhol do Isla Bajo el Mar. Afirmei que na língua original é melhor, e assim o recebi com um autógrafo.
Foi a experiência de encontrarmos de uma maneira muito simples uma pessoa que nós três admiramos muito de uma maneira simples. Estávamos todos desarmados, nós e ela. Os olhos de meus pais retornavam emoção aos olhos daquela que tanto os tocou com suas palavras. Seu abraço parece ter fechado um ciclo de toques emocionais que fora iniciado há tantos anos por palavras, por idéias e sentimentos transmitidos com tanta delicadeza e paixão, toques emocionais recebidos com uma frangilidade inocente.
Fiquei também muito impressionado com como ela me lembrou a Vera, amiga e terapeuta dos três. E quando comentei com meus pais, eles disseram que sempre acharam isso também. Vera e Isabel são contagiantes, são agregadoras de gente, têm uma sensibilidade humana sofisticadíssima, são mulheres fortes e delicadas, e sobretudo exalam amor.
Reservo para o final do meu dia um pensamento. A perda de uma pessoa importante acontece sempre um pouco antes da aparição de uma pessoa promissora. Cada pessoa deve ter liberdade de ir e vir em nossa vida e tanto chegadas quanto partidas devem ser louvadas. Dizem os Beatles "And in the end the love you take is equal to the love you make". E no site da Isabel eu li "What you have is what you give".
Pessoas.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
Não que eu saiba muito. Mas isso também não siginfica que não possa comentar. Minha teoria é que a sensaćão que temos nos momentos intensos, de que nossa vida é mais densa, é devida ao fato. De que nos momentos intensos esquecemos o passado e o futuro, e o percentual de presente que vivemos torna-se imenso. E o presente é o único dos três que não é vivência nula!
Atenćão a voce que acha que escreve muito em português: o erro cometido ao inserir o ponto entre "fato" e "De" é proposital. A gramática não está mais certa do que eu.
Imagina que tipo de sensaćões não experimentaríamos se não pudéssemos nos recolher por um momento, sem que os outros nos observassem?
Os Beatles utilizaram a mais polêmica planta no palácio de Buckingham.
Por que todos fazem o que devem fazer? E por que acham essa pergunta tão óbvia apesar de ela ser tão mal respondida?
Como terá sido ser Newton? Como terá sido o super-man? Como será ser Einstein, e mandar uma carta para o presidente americano incentivando à construćão da bomba, e ser um pacifista?
Por que o elétron não é um buraco negro?
("Questões forjadas num período de individualismo, 30 de maio de 2010).
Atenćão a voce que acha que escreve muito em português: o erro cometido ao inserir o ponto entre "fato" e "De" é proposital. A gramática não está mais certa do que eu.
Imagina que tipo de sensaćões não experimentaríamos se não pudéssemos nos recolher por um momento, sem que os outros nos observassem?
Os Beatles utilizaram a mais polêmica planta no palácio de Buckingham.
Por que todos fazem o que devem fazer? E por que acham essa pergunta tão óbvia apesar de ela ser tão mal respondida?
Como terá sido ser Newton? Como terá sido o super-man? Como será ser Einstein, e mandar uma carta para o presidente americano incentivando à construćão da bomba, e ser um pacifista?
Por que o elétron não é um buraco negro?
("Questões forjadas num período de individualismo, 30 de maio de 2010).
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